quarta-feira, 1 de março de 2017




De Andarilho

Quem sabe bastasse
Que o jeito das coisas em volta
Mudasse

O nascente do sol
os quartos de lua
os meses do ano
as horas do dia...
a cor da cancela
o aroma das flores
da erva do mate
da lenha pra'o fogo
sabores do leite
quadrante dos ventos
a cor das paredes
a hora da prosa
do arroz com feijão
temperos da carne
o balde descendo e subindo no poço
o ar da cozinha de café recém passado
a hora da sesta
o toque dos sinos
o canto do galo
o miado dos gatos
o latido dos cuscos
o mugido das vacas
as portas batendo
a faina diária
o noticiários
as telenovelas
os xeretas
os chatos
os ingratos
as carrancas...

... que o riso  volasse às caras tritonhas
e a gente que sonha pudesse gozar
uns lances dos sonhos

.. que a gente deixasse de ver no vizinho
defeitos mesquinhos
às vezes só nossos
tão nossos!

É...
Mas ainda não fosse essa a hora mais certa
de bulir-se rotinas
de vidas sem curvas
de escassas esquinas
de andar retilíneo
sem fio de navalha
sem adrenalina
sem nada por baixo
bem pouco por cima
e sem desafios...

Ele chegou cá de dentro
erupcionou cá do peito
em fúria indimável
selvagem
quebrando conceios
padrões
mil vezes mais forte
que o imã que ao Norte
atrai os metais...
mais, muito mais que todos ciclones
furacões, tornados maremotos
reunidos

Chegou
Instalou-se
Dono das coisas do meu coração

Desfiz sua bagagem

Havia cá em mim espaços vazios
Doídos
Onde justo cabiam
O estar e os trastes
Do amor anarilho

E assim se instalou

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