terça-feira, 19 de agosto de 2008

"Paroara Coronata"


Quando viemos morar na Harmonia, 1997, julho, as 'Paroaras' - nome científico atribuído ao "Cardeal", essa ave encantadora, topete vermelho, perfil elegante e de sonoro canto dobrado -começavam a retornar às nossas matas. A caçada frenética que lhes haviam imposto insanos mercadores de pássaros décadas a fio, podia te-los levado à extinção. Afinal, hordas de caçadores armados de infalíveis alçapões e munidos de chamarizes os buscavam onde a vistosa plumagem ou o seu canto livre os denunciasse.
E os bichinhos a caírem sistematicamente no engodo de um chamado; de um sofrido e engaiolado canto .
Some-se aos alçapões o evento dos agrotóxicos lançados nas lavouras, pasto natural dos pássaros, incentivado, agora, por anúncios governamentais tipo "Plante Que o João Garante", do governo de João Figueredo.
Estive ausente destas paragens por longos trinta anos.
Lá, quando ganhei outros mundos, raros indivíduos, velhos cardeais remanescentes estridulavam em gaiolas quedas atrás de mim.
Por isso, foram emotivas as minhas primeiras alvoradas na Harmonia. Saudado pelo trinar de uma casal de cardeais pousado no capão de eucaliptos, tive a impressão de voltar no tempo; de ter sobrevivido a uma hecatombe. Chorar não chorei, mas queimou-me nas veias um reconforto: as 'paroaras coronatas' da minha juventude eram salvas.
E presentes.
Vez por outra me questiono acerca de como os cardeais e outros pássaros - bem-te-vis, corruíras, quero-queros, tico-ticos, sabiás, joões-de-barro, etc. - sobreviveram a alçapões e agrotóxicos.
Teriam migrado para refúgios não sabidos ou se adaptado ao efeito dos venenos?
A verdade é outra: o único animal que não faria falta no Planeta (o homo sapiens) subestima a capacidade de sobreviver desses aparentemente frágeis emplumados.

Ave, Paroaras Coronatas!

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